Instituto Brasileiro de Museu

Museu da República

Exposição: Nada acabará, Nada ainda começou

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“Tenho tudo para ouvir e ver.
Ainda não sei nada. Leio livros para aprender.
Estou sempre apressada. Sou muito mexida.
Um dia quero uma coisa, no outro quero tudo.
Sofro de um problema de sossego.
Não sei o que é estar sossegada. Mais tarde corrijo.”

O paraiso são os outros
Walter Hugo Mãe

Ao pensar a exposição de Raul Leal para a Galeria do Lago me deparei com os versos e músicas que um dia soaram pelos salões do palácio do Catete. Os banquetes, saraus e bailes que ali reuniram a elite carioca do inicio do século XX estavam, certamente, impregnados do espírito e das ideias vigentes na sociedade da época. Preconceitos e ousadias, estranhamentos e deslocamentos acompanhavam as inovações apresentadas. Movimentos de exclusão e segregação sempre surgiram em todos os tipos de sociedade, dificultando ou impedindo os caminhos da cultura popular. Dessa forma, questões envolvendo o legado musical brasileiro despertam os sentidos principalmente para situações onde construção e destruição se opõem. Nada acabará! Nada ainda começou! Passam-se os séculos e nada acabou. Continua o preconceito, a proibição, a exclusão. Será que nada ainda começou? Será que expressões populares autênticas ainda vão continuar a ser rotuladas, consideradas inadequadas ou impróprias?

A música faz parte do universo de Raul Leal, artista-pianista que escolheu Nair de Teffé e a sua ousadia no inicio do século XX como fio condutor para a exposição de sua arte.
Levantar questões, abrir caminhos para se pensar estranhamentos e exclusões ao longo dos séculos são propostas desse artista que trouxe para a Galeria do Lago, nos jardins do Palácio do Catete, obras que remetem ao mundo da música e suas expressões.
Catulo da Paixão Cearense e Chiquinha Gonzaga nos salões do Palácio do Catete nos primeiros anos do século passado: “expressão chula da nossa cultura”!
Ernesto Nazareth para estudantes da rede pública, século XXI: “achacado, rejeitado”!
Show “Tecnomacumba” em evento gospel, século XXI: “proibido”!
O que torna cada uma dessas situações um momento de reflexão? Que paralelos existem entre elas e como podemos criar um novo começo a partir desses entendimentos? Raul Leal coloca sua arte para indagar. E cada espectador irá encontrar a sua resposta. Cada um que parar diante das propostas do artista vai saber que a música, como arte maior, está acima de preconceitos e proibições. E então tudo irá começar!!! Novas respostas virão, novas atitudes, novos posicionamentos! Um recomeço com mais liberdade!

Isabel Sanson Portella

Confira algumas imagens da exposição:
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De 17/05/2015 a 28/06/2015