BOLETIM ESPECIAL DE CARNAVAL | |||
Batalha de Flores no Rio de Janeiro | |||
Não existe no mundo inteiro um evento como o carnaval do Brasil. Ele se tornou um símbolo da cultura brasileira e um grande negócio, atraindo turistas de todo planeta para seus desfiles de escolas de samba e para blocos de rua, trios elétricos, blocos de frevo ou blocos de sujos. Se hoje ele mistura todas as classes sociais, no início, no começo dessa história, era tudo separado. As classes mais abastadas tinham seus eventos e as menos favorecidas as suas diversões. O povo, no máximo, podia acompanhar de longe, as ricas festas dos mais favorecidos. Mas foi dessa mistura de corsos, batalhas, cortejos, sociedades carnavalescas, cordões, ranchos, grandes sociedades e até banhos de mar a fantasia, que nasceram as escolas de samba e os blocos que fazem a festa do nosso carnaval. Entre esses vários tipos de manifestação uma, pouco conhecida hoje em dia, marcou época no começo do século passado: A Batalha das flores. Depois de reformar a cidade, abrindo grandes avenidas, o Prefeito Pereira Passos tinha que ocupar esse novos espaços e começou a criar concertos musicais e festas públicas. Uma das suas ideias foi importar da Europa para o carnaval brasileiro, a batalha das flores. A primeira aconteceu na praça da República, hoje Campo de Santana, e foi tão animada, elegante e alegre como as famosas batalhas de flores de Nice, Viena e Paris. Nestas batalhas os participantes além de enfeitar carros, charretes e até bicicletas com flores , atiravam as flores em outros carros e nos espectadores, que também respondiam atirando flores de volta. As alamedas, os gramados, as pontes, a gruta, as ilhas, toda praça da República ficou repleta de gente e os carros e carruagens estavam vistosamente enfeitadas de flores. Foi um sucesso. Marcou uma época. Mas durou pouco tempo e foi transformada em batalha de confetes. Dizem que isso aconteceu porque as flores já eram muito caras na época e os confetes, feitos de restos de papel, ficavam bem mais em conta para o povo participar. O Museu da República está fazendo nesse fevereiro de carnaval uma homenagem a um dos grandes nomes dessa festa, com uma exposição sobre esse mito, que marcou época e estaria fazendo 100 anos em 2016 : Clóvis Bornay.
João Motta
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Cartola | |||
O Cartola (1908-1980) é um dos maiores poetas e compositores da música brasileira e um dos fundadores da tradicional escola de samba Estação Primeira de Mangueira. Sua história de vida e arte é profundamente identificada com o morro da Mangueira, onde morava. Mas foi no Catete que Cartola nasceu em 11 de outubro de 1908, no número 9 da rua Ferreira Vianna, vizinha ao Palácio do Catete, cujo ocupante na época era o presidente Afonso Pena. Ali o menino Angenor morava com sua mãe Aída e seu pai Sebastião, mais dois irmãos (ainda nasceriam mais sete) e o avô Luís Cipriano Gomes, que trouxera a família de Campos, norte fluminense para o Rio por causa de seu emprego como cozinheiro do político Nilo Peçanha e de sua esposa Anita, ambos campistas também. Com a morte do presidente Afonso Pena em junho de 1909, Nilo, que era o vice, assumiu a presidência até o final do mandato em novembro de 1910, período em que Luís serviu ao casal no Palácio do Catete. Para aprender as primeiras letras, Cartola foi matriculado na Escola Rodrigues Alves, construída na gestão do prefeito Pereira Passos ao lado do Palácio do Catete (e demolida na década de 1970 pelas obras do metrô). No entanto, dificuldades financeiras fizeram com que em 1916 a família se mudasse para a vila operária da fábrica Aliança, em Laranjeiras. Com a morte do avô Luís em 1919 a situação financeira da família se complicou, obrigando à mudança para o morro da Mangueira que, segundo o próprio Cartola, naquela época não tinha mais que cinquenta barracos. Em Laranjeiras o jovem Cartola começou a tocar violão e a desfilar no rancho carnavalesco dos Arrepiados, de cor verde e rosa, cores semelhantes ao grená e verde do Fluminense, seu time de futebol do coração. Verde e rosa seriam, por fim, as cores da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, da qual Cartola foi um dos fundadores em 1928. Mas será que na memória do menino do Catete, nascido e criado nos arredores do atual Museu da República, não estaria também o verde daquele grande jardim da vizinhança, onde se destacava um palácio rosa?
Paulo Celso Corrêa
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Sambar para não esquecer | |||
Em 1916, foi gravada uma música de ritmo envolvente, cuja letra satirizava a posição contraditória das instituições oficiais em relação à polêmica questão do jogo na capital federal. A criação pioneira de Donga e Mauro de Almeida, conhecida como “Pelo telefone” e identificada como “samba”, logo transformou-se num estrondoso sucesso, abrindo as portas para composições musicalmente semelhantes. Ao mesmo tempo que se consolidava, o samba foi ganhando o coração do país, de modo que o já centenário gênero musical se tornou sinônimo de brasilidade. Nesses 100 anos, o samba adquiriu diversos sotaques, mas sempre mantendo o fundamental: além de encantar pela sonoridade, ele atua também como espaço de memória, permitindo o registro da crônica da coletividade. É comum que as letras dos sambas fixem, muitas vezes de forma crítica, fatos e episódios marcantes da nossa vida social. Quem não se lembra, por exemplo, do samba-enredo da escola de samba Mangueira, de 1988, cujos versos tocavam na ferida de nosso passado escravocrata?:Será, que a Lei Áurea tão sonhada/Há tanto tempo assinada/Não foi o fim da escravidão? É também inesquecível o refrão do samba-enredo de 1989 da Imperatriz Leopoldinense: Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós/ E que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz. Injetando na música uma forte dose de criticidade, a agremiação convidava o povo a fazer uma avaliação da república, no ano de seu centenário. Quem já participou de uma roda de samba sabe que basta uma pessoa puxar uma música que logo em seguida, por um efeito de contágio, todos se põem a cantar. Com o museu acontece algo parecido: ao abordarmos um objeto exposto, começamos a fazer uma série de conexões que instigam a nossa memória, que é ao mesmo tempo individual e coletiva. Por meio dos objetos que expõe, o museu permite que criemos e cantemos juntos uma espécie de música interna, que continua ecoando para muito além do espaço e do tempo em que ela surge.
Marcelo de Souza Pereira
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Agenda de Fevereiro | |||
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