O 20 de novembro, dia da Consciência Negra, é um chamado à reflexão sobre a história, as ideias, as lutas e esperanças da população afrodescendente no Brasil.E convida não apenas a lembrar das dificuldades causadas pela herança nefasta da escravidão e do preconceito, mas também da criação e resistência da população negra, que se manifesta na cultura, na ciência, na política, na religião, nos esportes, dentre outras esferas.
Os 130 anos da sanção da Lei nº 3.353/1888, popularmente conhecida como a Lei Áurea, são celebrados neste ano de 2018. Porém, mesmo após a abolição da escravidão, os obstáculos sociais ainda se impunham diante de uma população negra estigmatizada pela cor da pele e pelo passado escravo. A letra da lei de uma recém-proclamada República, que afirmava a igualdade entre todos os cidadãos, enfrentava a ordem social arraigada em injustiças que precisariam de décadas para serem questionadas com vigor.
O preconceito era sentido também pelos poucos afrodescendentes que estavam nas camadas superiores da sociedade, partilhando de seus interesses e ideologia; é o caso, por exemplo, de Nilo Peçanha, líder político fluminense, que foi governador, senador e Presidente da República, cujos traços mulatos, convenientemente “embranquecidos” nas fotografias, eram motivo de comentários maledicentes da imprensa e da oposição.
O Palácio do Catete foi sempre o lugar de residência e trabalho de membros da elite brasileira, brancos em sua maioria, de barões a presidentes da República. Da existência desses personagens da história encontram-se testemunhos nos objetos, documentos e livros. Mas é possível encontrar, nas entrelinhas e nas ausências, os vestígios daqueles a quem a história esqueceu ou silenciou. Foi com o trabalho negro que o Barão de Nova Friburgo, idealizador e primeiro morador do Palácio do Catete, ganhou parte de sua fortuna como cafeicultor e traficante de escravos; e também com o trabalho escravo foi construído o Palácio.
Já na República, as pessoas que por mais tempo trabalharam e moraram no Palácio do Catete eram afrodescendentes nascidos em Minas Gerais: o zelador Albino José Fernandes, nascido em 1878 e que trabalhava para a presidência desde 1908; e sua esposa, Pulquéria Costa, nascida em 1882, que trabalhava como lavadeira para a presidência desde 1914. Albino foi condecorado duas vezes por seus serviços, inclusive por meio da Ordem Nacional do Mérito concedida por Juscelino Kubitschek. Ainda assim, ele e Pulquéria ganhavam salários bastante abaixo da média para o trabalho que desempenharam até o final de suas vidas.