O documentário de estreia de Monica Klemz, Um Jardim Singular, gravado no jardim histórico do Palácio do Catete, será exibido no Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, no próximo dia 23 de fevereiro, em sua mostra de curtas-metragens Doc Fortnight Shorts Program: The Presence of Place. O jardim foi o cenário escolhido pela diretora Monica Klemz para tecer inter-relações entre memória e globalização, monumento e modernidade, isolamento e espaço público na obra de ficção.
O filme, única obra brasileira selecionada para o festival Doc Fortnight 2019, aborda a singularidade de um jardim urbano e histórico numa grande metrópole como o Rio de Janeiro. Um Jardim Singular passeia por um espaço verde nascido no Brasil Império escravocrata, no Palácio do Catete, então Palácio Nova Friburgo. A obra utiliza fotografias de arquivos, textos de jornais, e filmagens atuais para retratar os vários momentos da história do jardim como uma metáfora dos cambiamentos das últimas quinze décadas em temas como a preservação e difusão do patrimônio cultural e os modos de viver das grandes metrópoles. Vê-se o jardim como berço da primeira República e patrimônio tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1938, no meio do caos urbano, e a forma como pessoas interagem com ele e como o espaço verde se desdobra em múltiplas facetas, do globalizante ao singular.
Desde 2017 quando foi lançado, o filme já passou por mais de 60 festivais internacionais em cinco continentes, como o Full Frame Documentary Film Festival 2018 (EUA) que, segundo Klemz, abriu as portas para a seleção do MoMA; e o Traverse City Film Festival 2018 (EUA) do renomado documentarista e ativista americano Michael Moore. A produção, iniciada em 2017, foi contemplada com o Edital Elipse 2017, da Fundação Cesgranrio, para fomento de curtas universitários.
Um Jardim Singular terá sua segunda exibição no Brasil no Cineclube Museu da República com o tema Arquitetura e Urbanismo, no dia 28 de março de 2019, às 18h, junto ao filme Pedregulho – O Sonho Possível, de Ivana Mendes. Estará presente na ocasião a diretora Monica Klemz para debate com o público. A participação é gratuita.
Site do Festival Doc Fortnight Shorts Program: The Presence of Place
Entrevista de Monica Klemz para o “Globe International Silent Film Festival 2018”, Irã (em inglês)
Mais sobre o jardim histórico do Palácio do Catete:
O Palácio do Catete foi erguido no século XIX no então chamado Caminho do Catete, atual bairro do Catete, região que surgiu com o aterramento de uma área de mangues. Projeto do arquiteto alemão Gustav Waehneldt, o palácio foi construído entre 1858 e 1867 pelo cafeicultor português Antônio Clemente Pinto, o Barão de Nova Friburgo. Iniciada a construção, o Barão adquiriu novas terras, incorporando a área ao fundo do terreno e a aleia central do parque, onde já existiam palmeiras. Segundo alguns historiadores, tanto o Jardim do Palácio do Catete quanto o do Palácio São Clemente, em Nova Friburgo, também de propriedade do Barão, teriam sido obras do paisagista francês Auguste Marie Françoise Glaziou.
O Palácio teve outros proprietários após a morte do Barão e, em 1896, foi adquirido em hipoteca pelo governo federal, sendo delineado um plano para transformá-lo na nova sede do Poder Executivo Nacional, até então localizada no Palácio do Itamaraty. Para o projeto, foram realizadas obras de adaptação nas áreas interna e externa do edifício. A remodelação do Jardim do palácio ficou sob a coordenação de Paul Villon, discípulo de Glaziou, com quem já havia trabalhado na reforma do Campo da Aclamação, atual Praça da República. Um antigo pavilhão do parque foi transformado em coreto, seguindo a tendência dos logradouros públicos tanto em voga no período. Foram também construídas dependências para os mordomos e criados da presidência, atualmente residências de antigos funcionários e seus familiares. Ainda no parque, seriam adaptados um piquete de cavalaria e cocheiras, próximos à entrada da Praia do Flamengo, no local onde hoje se situa o prédio da Reserva Técnica do Museu da República. As instalações elétricas representaram uma grande inovação tecnológica na reforma de adaptação do Palácio. Coube ao engenheiro Adolfo Aschoff a coordenação dos trabalhos, citados como pioneiros pela imprensa da época. Foi construída uma oficina elétrica e um prédio de três compartimentos para abrigá-la, localizado na lateral do terreno voltada para a Rua Princesa do Catete, atual Rua Ferreira Viana.
Para assegurar o transporte do carvão que alimentaria a usina elétrica do palácio, foi construído um novo ramal na linha férrea que atendia ao bairro do Catete. Mais tarde, essa construção seria transformada em garagem presidencial, atualmente funcionando no local uma parte das instalações do Museu do Folclore. A usina elétrica foi desativada. Na área do Jardim voltada para a Praia do Flamengo, havia um embarcadouro construído pelo Conselheiro Mayrink, para a atracação de seu iate. Quando o palácio se tornou sede do governo federal, este cais passou a ser de uso exclusivo da Presidência da República. Na década de 1960, quando foi construído o Aterro do Flamengo, foi demolido o que restava do embarcadouro.
Em 6 de abril de 1938, o Palácio do Catete e seu Jardim foram tombados pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), hoje Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). No ano de 1960, com a transferência da capital federal para Brasília, o Palácio do Catete passou a abrigar o Museu da República, criado por decreto-lei pelo Presidente Juscelino Kubitschek. O Jardim, nesse momento, seria aberto ao público visitante. Em 1995, no âmbito de um projeto de restauração elaborado para o Jardim, foi realizada ampla reestruturação das redes elétrica e de escoamento de água e implantado um sistema automático de irrigação.
No final dos anos 90, uma nova intervenção substituiria os muros do parque erguidos ao longo da Rua Silveira Martins e da Praia do Flamengo por gradis idênticos aos que já existiam na fachada da Rua do Catete, permitindo uma maior visibilidade do Jardim. Em 2013, com patrocínio da Light e da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura e em parceria com o Instituto Cultural Cidade Viva (ICCV), a estrutura física do gerador da antiga usina elétrica foi restaurada e colocada em exposição no Jardim, junto ao bistrô, igualmente restaurado.
Em 2014, graças ao patrocínio da Petrobras e a renovada parceria com o Instituto Cultural Cidade Viva (ICCV), as esculturas, a gruta e os rocailles do Jardim foram restaurados.
Um Jardim Singular (exibição no Cineclube Museu da República)
Cineclube Museu da República
Quando: 28 de março de 2019, às 18h
Endereço: Rua do Catete, 153 – Rio de Janeiro (Espaço Multimídia)
Telefone: (21) 2127-0324
E-mail: mr@museus.gov.br
Entrada gratuita.