O Museu da República, unidade vinculada ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram/Minc), anuncia a reabertura parcial do Palácio do Catete a partir de 16 de julho de 2025. Fechado desde fevereiro para análises estruturais, o edifício histórico reabre seu primeiro pavimento para visitação, marcando uma nova etapa no processo de restauração completa do complexo arquitetônico e paisagístico.
O trabalho realizado nos últimos meses é inédito na história do museu: foram feitas prospecções técnicas em pisos e paredes, com acompanhamento de engenheiros, arquitetos, especialistas em restauro e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Pela primeira vez, o sistema estrutural do Palácio foi mapeado e diagnosticado integralmente, possibilitando um conhecimento aprofundado sobre as condições do edifício, orientando as ações de restauro necessárias, sempre priorizando a mínima intervenção no patrimônio.

A análise técnica revelou a necessidade de novos serviços, além dos inicialmente previstos. No entanto, comprometido com sua missão de preservar, comunicar e garantir o acesso ao patrimônio histórico, o Museu da República, com aval das equipes técnicas que acompanham o projeto, retoma a visitação pública ao primeiro pavimento do Palácio.
Entre os espaços que permanecem temporariamente fechados está o famoso “Quarto de Getúlio”, localizado no terceiro andar. Para atender o interesse do público, itens emblemáticos ligados à memória de Getúlio Vargas, como a máscara mortuária e o pijama usado no dia de sua morte, estarão expostos no térreo.
Visitação: o Palácio do Catete estará aberto de quarta a domingo, das 11h às 17h (com última entrada às 16h30). Os horários também valem para a Galeria do Lago, que segue com a exposição “Do Chão que Piso”, de Jaime Acioli. O jardim histórico do Museu permanece aberto diariamente, das 8h às 18h, sem alteração.
Sobre os trabalhos de prospecção: A análise estrutural do Palácio foi conduzida desde março de 2025 pela empresa AF – Projetos de Engenharia, em parceria com a Resgate – Consultoria em Patrimônio e a InovaBC, sob coordenação da Mayerhofer & Toledo Arquitetura, responsável pelo projeto de restauração integral do Museu. A engenheira restauradora Sílvia Puccioni, responsável técnica pela atual fase do restauro estrutural, também atuou nas obras emergenciais realizadas nos anos 1980, após danos causados pelas obras do metrô. Sílvia destaca que o Palácio possui um sistema estrutural excepcional: “É uma estrutura extremamente robusta, fruto de um projeto construtivo fantástico. Mas as condições atuais demandam intervenções cuidadosas, que estão sendo planejadas com rigor técnico e respeito absoluto ao patrimônio.”
O Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) mantém seu compromisso com a preservação desse bem tombado e com a salvaguarda do acervo do Museu, seguindo sua missão de promover o acesso à memória, à cultura e à história do Brasil.
A reabertura do Palácio do Catete traz também a inauguração da exposição “Crônicas de uma Barbárie”, que reúne desenhos do chargista Carlos Latuff produzidos durante a pandemia de Covid-19. A mostra apresenta uma visão crítica, contundente e sensível sobre os impactos sociais e políticos daquele período, através da arte gráfica de um dos mais expressivos nomes do cartum político brasileiro.
A exposição está organizada em três núcleos:
Primeira sala: Apresenta o universo do artista, com materiais de trabalho (como suas canetas), publicações, além de referências ao seu hobby pela radioescuta. Também são destacados temas recorrentes em sua obra, como a denúncia da violência policial e o ativismo em prol da causa palestina. Este núcleo contextualiza ainda o cenário político que antecedeu a pandemia.
Segunda sala: Foco central da exposição, essa sala aborda a forma trágica como a pandemia foi vivida no Brasil. Estão expostos painéis e charges que denunciam o negacionismo da doença e da vacina, além de uma cronologia que evidencia o avanço do número de mortos no país. Um painel de luto às vítimas, como Aldir Blanc e Paulo Gustavo, retratados nos traços de Latuff como símbolo da dor coletiva.
Terceira sala: Este núcleo valoriza o trabalho dos profissionais da saúde e de instituições que atuaram no combate ao negacionismo e na promoção da vacinação. O Museu da República, que também foi posto de vacinação, é lembrado com fotos desse período e objetos utilizados, posteriormente incorporados ao acervo do museu. A sala conta ainda com um painel em branco, onde Carlos Latuff realizará, em data a ser agendada, um desenho inédito, criado especialmente para a exposição.
A coleção Carlos Latuff no Museu da República A relação do artista com o Museu da República começou em 2018, quando realizou a primeira de uma série de doações de charges. Atualmente, o acervo conta com cerca de 2.000 obras, incluindo desenhos, publicações, fotografias e materiais pessoais do artista, como suas canetas de trabalho. A coleção reúne, majoritariamente, charges que denunciam violações de direitos humanos, desigualdades sociais e questões políticas e econômicas, tanto no Brasil quanto no mundo. Em 2018, o Museu realizou a exposição “Museu Nacional Vive”, composta por desenhos e charges de Latuff sobre o incêndio do Museu Nacional. Em 2024, o Museu da República lançou a exposição virtual “Coleção Carlos Latuff no Museu da República”, disponível na plataforma Google Arts & Culture, ampliando o acesso do público a esse acervo tão representativo.