A obra, de Emil Bauch, que retrata os primeiros moradores do Palácio do Catete, chegou em 1974 ao Museu da República
O Museu da República conclui o processo de aquisição da obra “Retrato dos Barões de Nova Friburgo”, de Emil Bauch. A pintura, comprada do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), foi cedida para o Museu da República em 1974, e desde então compõe sua exposição permanente, no primeiro dos três andares do Palácio do Catete no Rio de Janeiro.
A obra de Bauch retrata Antonio Clemente Pinto, o Barão de Nova Friburgo, e sua esposa, Laura Clementina da Silva, a Baronesa de Nova Friburgo, os primeiros moradores e idealizadores do Palácio do Catete, hoje, Museu da República. Segundo parecer técnico emitido para avaliação da peça, essa é uma das obras mais significativas da retratística brasileira do século XIX, mais especificamente da iconografia da nobreza cafeeira do Vale do Paraíba.
O retrato apresenta o casal, ao centro, rodeado pelas conquistas de um então cafeicultor, fazendeiro, comerciante e representante da burguesia em ascensão na época: Antonio Clemente Pinto, a quem foi conferido o título nobre de Barão de Nova Friburgo pelo estado monárquico. A pintura é uma alegoria das conquistas materiais do Barão, retratando os bens do casal: o Palácio Nova Friburgo – representado por uma maquete –; duas importantes propriedades rurais – a Fazenda do Chalé e o Solar do Gavião, localizados na região serrana do estado do Rio de Janeiro –; e o projeto para a Estrada de Ferro Cantagalo, financiada por ele para interligar suas fazendas e escoar o café.
A obra foi elaborada por Emil Bauch provavelmente entre 1864 e 1867, período no qual o Palácio do Catete era construído para ser a residência principal da família. A pintura foi uma encomenda de Antonio Clemente Pinto para seu palacete do Largo do Valdetaro, depois conhecido como Palácio Nova Friburgo, e, então, Palácio do Catete.
Breve percurso da obra
Com o término das obras do então Palácio Nova Friburgo, em 1867, o quadro passa a fazer parte de sua decoração. Em 1869, morre o Barão de Nova Friburgo e no ano seguinte sua esposa. Com a morte dos primeiros moradores e idealizadores do Palácio do Catete, o palacete é vendido à Companhia Grande Hotel Internacional e o quadro é retirado pelos herdeiros, e provavelmente levado para a Fazenda do Gavião, em Cantagalo. De 1889 a 1920, supõe-se que o quadro tenha sido mantido na Fazenda do Gavião. O filho mais velho, Visconde de São Clemente, faleceu em 1898 e imagina-se que o quadro tenha passado à posse do filho mais novo, Bernardo Clemente Pinto Sobrinho, Conde de Nova Friburgo.
Em outubro de 1920, termina o inventário do Conde de Nova Friburgo (falecido em 1914) e ocorre a doação do quadro por sua viúva, Ambrosina Leitão da Cunha Campbell, Condessa de Nova Friburgo, ao IHGB, que funcionava à Rua Teixeira de Freitas, ao lado do Passeio Público do Rio de Janeiro, onde a pintura permanece até 1974, quando é solicitada pelo Museu Histórico Nacional, ao qual o Museu da República era vinculado, para ser exibida na exposição de longa duração do Museu da República relativa aos antigos proprietários do prédio.
Processo de aquisição
O processo de aquisição parte da iniciativa de incorporar em caráter definitivo ao acervo do Museu da República a obra, que desde 1974 estava emprestada pelo IHGB, dada a sua relevância para a história do Palácio do Catete. A aquisição da obra, com recursos provenientes do Fundo Nacional de Cultura, segue avaliação de empresa especializada no valor de R$ 450 mil e ocorre por meio de dispensa de licitação, em conformidade com a Lei nº 8.666/93.
A avaliação foi elaborada a partir de um exame técnico da obra em questão, “Retrato dos Barões de Nova Friburgo”, sendo analisados aspectos temáticos, técnicos, estéticos e formais, considerando-se a trajetória artística do autor Emil Bauch, sobretudo sua produção de retratos. Como instrumental, o exame contou com o recurso de lentes de aumento, da aplicação de luz ultravioleta e da reprodução de imagens digitais. Recorreu-se igualmente a um suporte bibliográfico e documental, sobretudo de documentos relacionados à obra e pertencentes ao Museu da República, ao IHGB, ao Museu Imperial e ao Museu Nacional de Belas Artes.
A arte de retratar uma burguesia em ascensão
De tendência inicialmente controversa nos grandes salões de pintura do século XVIII, então habituados às consagradas pinturas históricas e de paisagens, a retratística consolida-se na arte atendendo aos anseios de uma ascendente burguesia de ver-se projetada em obras de arte expostas na vida pública e privada.
No retrato dos Barões de Nova Friburgo, alguns ícones refletem o sucesso material do casal, bem como a tendência estética eclética de várias épocas históricas ao gosto da burguesia capitalista europeia, que se espraia para a burguesia em ascensão no Brasil. Vê-se ao lado da cortina, por exemplo, a escultura de uma deusa que os avaliadores da peça estimam ser Niké, a deusa da vitória, ou Eucleia, deusa da honra, da gloria e da boa reputação, com duas coroas de louros para laurear as glorias do casal. As insígnias portadas pelo Barão e a cadeira em estilo Napoleão III na qual se senta Antonio Clemente Pinto são também símbolos do estilo estético de uma classe social em ascensão que se pode conferir igualmente na decoração e na arquitetura do Palácio do Catete.
Sobre Emil Bauch
Pintor de paisagens, cenas de gênero e retratos, litógrafo e aquarelista, Emil Bauch nasceu em Hamburgo, Alemanha, em 1823, e faleceu no Rio de Janeiro depois de 1874, provavelmente na década de 1890.
Bauch estudou na Academia Real de Artes de Munique, na Baviera (1839-1844). Em 1849 transferiu-se para o Brasil morando inicialmente em Recife-PE. Em 1857, já se encontrava no Rio de Janeiro onde participou das Exposições Gerais, da Academia Imperial de Belas Artes. Foi professor de pintura de paisagem por algum tempo (1866) e recebeu várias encomendas de retratos tendo participado também da decoração pictórica do Palacete dos Barões de Nova Friburgo.