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Museu da República

Desafio dos 10 anos | O Palácio do Catete, dez anos depois: das alegorias às harpias

publicado: 17/01/2019 17h50, última modificação: 17/01/2019 17h50

Uma pessoa que passasse em frente ao Palácio do Catete em 1900 e que só voltasse ali em 1910, talvez percebesse que algo havia mudado nesses dez anos. Não apenas os Presidentes da República que ali governavam – Campos Sales em 1899 e Nilo Peçanha, dez anos depois – mas algo mais visível ao observador externo. A diferença estava na parte do edifício que os arquitetos chamam de platibanda, isto é, um tipo de mureta no topo das fachadas que serve para camuflar o telhado das casas. Em 1899, a platibanda do Palácio do Catete ainda era decorada por um conjunto de sete esculturas de ferro e bronze, produzidas na fundição francesa de Val D’Osne, retratando figuras femininas que serviam de alegoria à República (ao centro), à Agricultura e à Primavera (à direita), à Justiça e ao Outono (à esquerda), ao Inverno e ao Verão (na parte dos fundos do prédio, voltadas para o jardim). Essas esculturas foram colocadas ali entre 1896 e 1897, quando o Palácio foi reformado para ser a sede da Presidência da República.

Em 1907, durante o governo Afonso Pena, foi decidido que as esculturas alegóricas deveriam ser substituídas por um conjunto de sete águias, de acordo com o projeto original do edifício. Só que desta vez, pra dar um aspecto mais “nacional” ao conjunto, a ave de rapina representada seria de uma espécie tipicamente brasileira: a harpia, também conhecida como gavião-real, uma das maiores aves de rapina do mundo (com envergadura de até 2 metros e meio e peso de até 10 quilos), que habita a região amazônica do continente sul-americano. As esculturas foram encomendadas ao artista Rodolfo Bernardelli e fundidas no Estabelecimento Metalúrgico A. Durenne, de Paris. Só foram instaladas no Palácio do Catete em 1910, quando Nilo Peçanha era presidente, continuando ali até os dias de hoje. Embora sejam popularmente reconhecidas como águias, o que distingue as harpias é o penacho que possuem na cabeça e que foi devidamente reproduzido nas esculturas. Porém, para o humor da imprensa da época, esse penacho fazia das harpias do Palácio do Catete uma mistura de “condor com burrinho de bonde”.

O Palácio do Catete, em 1897, com as recém colocadas esculturas alegóricas. Foto: Marc Ferrez. Acervo IMS.
O Palácio do Catete, em 1897, com as recém colocadas esculturas alegóricas. Foto: Marc Ferrez. Acervo IMS.
Do mesmo ângulo, o Palácio do Catete já com as harpias, durante a posse do presidente Arthur Bernardes em 1922. Foto: Augusto Malta. Acervo MIS-RJ.
Do mesmo ângulo, o Palácio do Catete já com as harpias, durante a posse do presidente Arthur Bernardes em 1922. Foto: Augusto Malta. Acervo MIS-RJ.