A PÁTRIA
PEDRO BRUNO (1919)
No Brasil, a partir de meados da década de 1890, depois de superada a instabilidade dos anos iniciais da República, diversos edifícios públicos foram reformados ou construídos, e, portanto, para os mesmos, se faziam necessárias a arquitetura, a decoração de interiores, a pintura e a escultura.
A Escola Nacional de Belas Artes deu continuidade ao chamado “Projeto Civilizatório” iniciado no período Imperial, no qual o ensino artístico se dava através da produção de obras de arte como instrumento do governo. No período imperial isso ocorreu com a ajuda de Vitor Meirelles e Pedro Américo. Na República, se dará com a colaboração de novos artistas tais como Décio Villares, Antônio Parreiras, Belmiro de Almeida, João Timóteo da Costa, Pedro Bruno e Nicolina Vaz de Assis. A intenção permanecia a mesma: a construção de um ideário de identidade nacional através da produção artística da Escola Nacional de Belas Artes, antiga Academia Imperial de Belas Artes.
O país se firmava como nação independente e republicana, e a arte era considerada um lugar privilegiado para pensar a nova sociedade. O desejo de modernidade, de participar da rota do progresso e tornar-se uma grande nação desfazendo a imagem do exotismo tropical, do atraso e da inércia, permeava as mentes esclarecidas. Esses ideais, ao lado de outros emblemas e símbolos nacionais, contribuíram expressivamente para a formação da “alma” dos brasileiros.
Pedro Bruno passou a frequentar a Escola Nacional de Belas Artes como aluno de Baptista da Costa, e, em 1919, conquistou o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro com aquela que talvez seja a sua mais famosa tela, A Pátria.
Numa temática extremamente simbólica, Pedro Bruno utilizou-se de vários artifícios da pintura para a elaboração dessa tela que hoje se encontra numa das paredes do salão Ministerial do Museu da República. Todos os que observam a obra, mesmo os menos iniciados apreciadores de arte, não podem deixar de se impressionar. Percebe-se, em um primeiro momento, a construção de uma cena familiar. A confecção da primeira Bandeira da República remete à construção de uma nova Nação. Rica em detalhes, a tela é invadida por uma luz intensa, que ilumina a criança com a bandeira, figura central do quadro. A cena, formada principalmente por mulheres, nos traz à mente Marianne, o símbolo feminino da Revolução Francesa. Contrastando com áreas de sombra, a iluminação utilizada coloca em evidência a mãe que alimenta o bebê (este representando a República que nasce), as várias crianças, as distintas gerações que formam uma nação onde todos se empenham em oferecer contribuições. Quase dissolvido nas sombras, o velho representa o passado.
Pedro Bruno, em sua obra, não poderia deixar de mencionar as figuras de heróis e mártires, símbolos da luta pela sobrevivência da Nação brasileira, representados ao fundo da tela: Tiradentes, Marechal Deodoro da Fonseca e Benjamin Constant.
Tiradentes aparece em seu derradeiro momento, de camisolão e com a forca ao lado; Marechal Deodoro da Fonseca num típico retrato oficial e Benjamin Constant trajando a farda que usou na Guerra com o Paraguai.
O esplendor e o fausto da época do império cedem espaço à simplicidade do ambiente da casa popular brasileira. A esteira de palha onde repousa o bebê e as damas (filhas e esposa de Benjamin Constant) sentadas ao chão, costurando, expressam o ideal de uma nação que se constrói sobre bases mais sólidas e realistas.
Isabel Sanson Portella
Doutora da PPGAV- EBA/UFRJ
Museóloga- Museu da República
Outubro 2015
Alegoria, do grego allegoreno ( allos, “outro” e agorein, “falar”) significa “falar de outro modo”, falar de outra coisa que não de si mesma. Já o símbolo aproxima dois aspectos da realidade em uma unidade bem-sucedida (sym, “conjunto”; ballein, “lançar”, “colocar”).
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