Mulambö transforma a Galeria do Lago em território de memória

O Museu da República recebe a partir de 6 de setembro a exposição “O Canto da Vila”, do artista visual Mulambö, que será apresentada na Galeria do Lago. Marcando a abertura da semana ArtRio, a mostra apresentada na galeria é uma versão expandida da exposição apresentada em Saquarema, entre os meses de junho e julho de 2025. Com a curadoria de Isabel Portella, “O Canto da Vila” propõe um mergulho por diferentes camadas da vida do artista, e chega à Galeria do Lago com algumas obras inéditas, novos eixos temáticos e uma ambientação sensível que faz uma combinação entre território, memória e identidade. 

Logo na entrada da exposição, o público é recebido pelo Eixo Mães, com imagens devocionais de Nossa Senhora de Nazaré e Iemanjá. A espiritualidade e a ancestralidade também estão presentes no Eixo Casa, que é um núcleo inédito criado especialmente para esta versão, onde pinturas evocam santos, entidades e memórias da casa onde o artista cresceu e que hoje abriga seu ateliê. Já o Eixo Sonho apresenta figuras como o “homem caranguejo” e o “homem palmeira”, personagens de um folclore inventado a partir da cultura caiçara. O Eixo Bandeira, por sua vez, reúne símbolos do afeto, do alimento e da força espiritual em uma composição gráfica que se transforma em estandarte de uma Saquarema subjetiva. 

Outros núcleos ampliam a narrativa: o Eixo Corpo, dedicado à paixão pelo time local; o Eixo Mar, que traduz a relação vital com o oceano; e o Eixo Animal, marcado pela presença do Guardião, cachorro que ocupa discretamente o espaço entre as salas, símbolo de proteção e passagem. 

Segundo Mulambö, transportar a intimidade da casa para o espaço institucional cria uma tensão produtiva entre o pessoal e o público: “É como se eu estivesse dizendo: isso aqui também é arte, isso também é história. A exposição vira quase um território, um espaço de afirmação.” A oralidade também atravessa o processo criativo, como destaca o artista: “Esse é um trabalho muito atravessado pelas histórias que eu escutei e que agora viraram imagem. Quem vê a exposição está vendo também um pedaço dessas conversas e afetos.” 

A curadora Isabel Portella , responsável pela Galeria do Lago, reforça que o trânsito entre espaços pessoais e institucionais revela novas formas de pertencimento e afeto: “Quando o mar é personagem e morada, a travessia estabelece uma ligação sem fronteiras. Ao entendermos que arte é vida, percebemos que os espaços de criação sempre serão casa, morada, lugar de acolhimento.” 

Como parte da programação da ArtRio 2025, a exposição contará com visita mediada no dia 12 de setembro, das 11h às 13h, com a presença do artista e da curadora. O projeto também investe em acessibilidade, com QR Codes com audiodescrição, peças gráficas e catálogo adaptado.