Literatura negra ganha destaque nas comemorações do aniversário do Museu da República

O Museu da República celebrou seu aniversário nos dias 15 e 16 de novembro com uma programação voltada à promoção da cultura, da memória e da produção artística contemporânea. Um dos pontos altos da comemoração foram as rodas de conversa com escritoras negras, realizadas nos dois dias do evento, reunindo autoras de diferentes trajetórias e formações que vêm contribuindo para o fortalecimento da literatura produzida por mulheres negras no país.

A primeira mesa, no sábado, foi mediada pela jornalista Gabriela Anastácia, que conduziu o diálogo entre a biomédica, pesquisadora e autora de “Da minha pele para a sua”, Cristiane Boneta; a escritora e comentarista da Rádio Roquette Pinto, idealizadora do projeto Autoestima Diva e autora de Trovoada, Priscila de Jesus; e a coordenadora do Instituto Casa Poema e autora de Ashanti, nossa pretinha, Taís Espírito Santo.

A conversa iniciou com cada autora partilhando suas primeiras aspirações no universo da leitura e da escrita. As três destacaram a importância da infância como ponto de partida para a construção da identidade leitora. Memórias de diários da adolescência, livros escolares e referências femininas dentro da família apareceram como marcos fundamentais para o despertar da criatividade das autoras.

Em seguida, o diálogo avançou para a apresentação das obras das convidadas. Cristiane Boneta, autora de “Da minha pele para a sua- Uma história de superação e sucesso” contou sobre suas inspirações para escrever sua autobiografia, pontuando sobre sua trajetória e a importância de cada parte da sua história na construção da sua jornada que rompeu barreiras até alcançar o sucesso. Priscila de Jesus falou sobre sua obra “Trovoada” e sobre como sua escrita nasce de inquietações sociais, resgatando histórias que transformam dor em potência. Os poemas presentes em Trovoada ganham destaque pela sua relevância social, abordando temas de um cotidiano que merece uma reflexão. Ao fim do bloco, Thaís Espírito Santo aprofundou o processo de criação de “Ashante, nossa pretinha”, livro infantil que destaca a ancestralidade e o orgulho da negritude desde cedo, como forma de afirmação identitária para crianças negras.

Um dos pontos fortes foi a reflexão sobre o início da jornada de escrita. Em uníssono, defenderam que “não é escritora apenas quem publica livros”, reforçando que o processo criativo, a produção contínua e a expressão de vivências constituem a identidade da escritora muito antes da materialização da obra.

No último bloco, as autoras compartilharam detalhes de seus processos criativos. Falaram sobre rituais pessoais, a importância da escuta ativa e do cotidiano como fonte de inspiração. Ao final da conversa, Priscila de Jesus declamou um dos poemas presentes em sua obra “Trovoada” e Taís do Espírito Santo recitou o poema “Muleque”, de Solano Trindade.

No domingo, dia 16/11, a roda de conversa foi mediada por Larissa Neto, musa da Unidos da Tijuca, escola que esse ano homenageia a escritora Carolina Maria de Jesus, referência da literatura negra no Brasil e no mundo. As participantes desta mesa foram Katia Passos, jornalista e escritora que já atuou em grandes veículos de comunicação e destaca trajetórias de mulheres negras; e France Marinho, poetisa e professora da rede pública, autora de um livro de poesias

Além da roda de conversa, a programação de aniversário do Museu da República contou com apresentações artísticas, atividades educativas, visitas guiadas e ações culturais voltadas ao público de diferentes faixas etárias. O evento reforçou o compromisso da instituição em valorizar expressões culturais diversas e promover espaços de diálogo sobre identidade, memória e inclusão.

Nas fotos, da esquerda para a direita estão: Gabriella Nastácia, Priscilla de Jesus, Cristiane Boneta e Taís Espírito Santo.