Clóvis Bornay fantasiado de Cardeal Richelieu – Divulgação/Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro
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Perigo do Samba | Clóvis Bornay | |||
Se você fosse sambista na década de vinte do século passado, ou apenas gostasse de ouvir e dançar Samba, tinha que ter muito cuidado. Quem fosse pego cantando ou dançando Samba corria o risco de ser preso. Hoje, 100 anos depois, quem diria, o Samba que foi perseguido, xingado, mal tratado, virou um dos maiores símbolos da cultura brasileira. E o Samba não parou por aí. Se espalhou por todo o país e deu vários filhotes como o Samba enredo, Samba de partido alto, pagode, Samba-canção, Samba-exaltação, Samba de breque, Sambalanço e até a bossa nova, que também é filha do Samba. No retorno da nossa programação do Cineclube Cinema e História Silvio Tendler, vamos fazer uma homenagem em comemoração ao centenário do Samba e exibir o documentário “Velha Guarda da Portela – o Mistério do Samba”, com depoimentos dos mais importantes integrantes da história da Portela, como Paulinho da Viola. Depois do filme teremos debate com o diretor Silvio Tendler e os historiadores Elizabeth Abel e Romney Lima. Na primeira Jornada Republicana desse ano vamos falar sobre o tema “Homofobia e memória LGBT”, partindo de um mito da história do carnaval no Brasil, que também estaria fazendo 100 anos: Clóvis Bornay. Além de ser um mestre das fantasias de luxo do carnaval, Bornay foi também um lutador da causa LGBT e fundou, numa época em que o preconceito ainda era enorme, a torcida FlaGay. Teremos também o projeto “Música no Museu”, lançamento do livro “Guerra dos Lugares: a colonização da terra e da moradia na era das finanças”, da urbanista Raquel Rolnik, apresentação da “Orquestra Villa Lobos e as Crianças” no Jardim do Museu, Feira de fotos, organizada pela ABAF – Associação Brasileira de Arte Fotográfica, as exposições “Por um Beijo da Guanabara” e “Clóvis Bornay – 100 anos”, dentro do Museu da República, e “Geodésia e Gelosia”, na Galeria do Lago. Além, é claro, da nossa tradicional e indefectível “Seresta no Museu da República”, criada pelos frequentadores do Jardim do Museu.
Três Sambistas bonitos e elegantes: Pixinguinha, João da Baiana e Donga
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Durante o carnaval desse ano, ao mesmo tempo em que os blocos e escolas de samba desfilavam pela cidade e a memória do museólogo e carnavalesco Clóvis Bornay (1916-2005) era celebrada pelo Museu da República através da exposição “Clóvis Bornay – 100 anos”, a Secretaria Estadual de Direitos Humanos do Rio de Janeiro ainda era ocupada por um pastor evangélico conhecido por suas declarações homofóbicas, causando preocupações quanto à continuidade das políticas públicas dedicadas ao segmento de lésbicas, gays, bissexuais e travestis (LGBT). Uma coincidência ainda mais contrastante se lembrarmos que, dentre as múltiplas expressões de Bornay na arte e na vida, destaca-se a sua importância para a memória do movimento LGBT do Brasil. Como artista e folião, Bornay sempre brincou com a mistura entre os gêneros. Fora do carnaval, vestia-se com roupas masculinas, exibindo bigode à moda latin lover e penteado inspirado no ator e símbolo sexual ítalo-americano Rodolfo Valentino. Porém, nos bailes de fantasia e nos desfiles carnavalescos, Bornay fazia questão de exprimir a convicção de que homens podem ser também pavões, como diz a seu respeito o historiador brasilianista James Green. Personagens históricos como príncipes, reis, papas, czares, marajás e faraós eram representados com luxo, brilho, esplendor e requinte que superavam os das fantasias consideradas tipicamente femininas. Ao invés de esconder sua preferência sexual em um casamento heterossexual de aparências, no final de sua vida Bornay se casou com uma mulher por gratidão a ela, o que também era mais uma forma de amar. Suas participações como jurado de programas de auditório na TV faziam com que cidadãos mais moralistas enviassem cartas à censura durante a ditadura militar (1964-1985), reclamando de seu jeito “efeminado”. Em 1979, criou a torcida organizada flamenguista Fla-Gay, levando aos campos de futebol o tema da homossexualidade, eterno tabu nesse esporte. Ao preconceito contra sua opção sexual, Bornay respondia com irreverência e coragem. Apesar de conquistar adeptos e importantes avanços pelo mundo, o movimento LGBT tem despertado a reação violenta daqueles que, por razões morais, políticas e religiosas, condenam a diversidade sexual. E a homofobia vai além do discurso do ódio; no Brasil, somente em 2014, ela causou 316 mortes entre gays, lésbicas e travestis, sem contar os casos não registrados. A garantia do exercício dos direitos básicos da cidadania contra as limitações impostas pelo preconceito é um desafio republicano por excelência. Por isso, nesse mês de março o Museu da República abordará em sua Jornada Republicana o tema dos direitos LGBT e da homofobia tendo como referência o legado de Clóvis Bornay, o museólogo carnavalesco que por mais de 70 carnavais “desfilou na cara do preconceito”. Paulo Celso Corrêa
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Agenda de Março | ||||
Dia 1 Dias 1 a 6, 8 a 13, 15 a 20, 22 a 27 e de 29 a 31. Dia 7 Dia 19 Dia 27 Dia 29
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Dia 31 Exposição “Por um beijo da Guanabara” Exposição “Clóvis Bornay – 100 Anos” Exposição “Gelosia e Geodésia” de Rosana Ricalde e Felipe Barbosa Seresta no Museu – Seresta no Museu – Dias 1 a 3, 5 a 10, 12 a 17, 19 a 24 e 26 a 31 VISITEM O NOVO SITE DO MUSEU DA REPÚBLICA:
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